por Antônio Carlos dos Reis - publicado em 15/02/2013
Meus caros leitores, não damos muita atenção às novelas da Rede Globo, mas é certo que elas têm o seu público, que deve ser respeitado em seu gosto, sendo inegável a alta tecnologia usada pela emissora televisiva, além de um grupo de atores e atrizes da melhor qualidade, alguns deles com grande experiência no teatro, o que dá mais qualidade artística e beleza em uma grande variedade de cenas de determinadas telenovelas.
Em um passado já bastante remoto, acompanhamos e gostamos bastante das novelas “Roque Santeiro”, “O Bem Amado” e “Gabriela”, a primeira versão, tendo como personagens principais Sonia Braga, Armando Bogus e Paulo Gracindo, os dois últimos já falecidos, excelentes atores. Sonia Braga, no esplendor de seus 25 anos, com aquele sotaque sensual de nordestina bonita e, porque não dizer, “gostosíssima”. Paulo Gracindo e Armando Bogus deram um show de interpretação, o primeiro representando o Coronel Ramiro e o segundo o árabe Nassif. Foram inesquecíveis certas cenas gravadas por esses atores e atrizes, além de outros, que compuseram um elenco da melhor qualidade.
O certo é que a novela Avenida Brasil, cujo último capítulo foi televisionado em 19 de outubro passado, despertou um grande interesse no público e por esta razão passamos a acompanhá-la, curioso para descobrir a causa de tamanho interesse de todos que a assistiam.
Sinceramente, não encontramos uma razão plausível para tanto interesse, uma vez que a novela não difere muito de muitas outras levadas ao ar pela mesma Rede Globo, a não ser o alto grau de sordidez, vilania e crueldade de muitos personagens da novela, a começar pela detestável Carminha.
Para começar, ninguém trabalha na trama novelesca. Um bando de vagabundos, vivendo em torno do personagem Tufão, marido de Carminha, o maior corno manso da paróquia e que aceita tranquilamente o nobre título. Todos os vagabundos - e olha que são muitos - vivem às custas de Tufão, que faz questão de alimentá-los e alojá-los muito bem.
O poeta e colunista da “Folha de São Paulo”, Ferreira Gullar, escreveu uma crônica sobre a novela, que merece ser reproduzida. Disse ele:
“Não por acaso, a execrável Carminha se tornou a principal agente da ação dramática de “Avenida Brasil”. Neste ponto, esta novela só difere das demais pelo grau de vilania e crueldade que atribuiu à personagem. Aliás, nisto, ela é quase imbatível, já que quase todos os personagens são de uma sordidez sem limites. Com a agravante de que os que escapam disso, que não matam, não traem, não subornam, nem se deixam subornar, são idiotas ou tolos, como Tufão, marido de Carminha, o corno manso por excelência. Para minha surpresa, ouvi num debate de televisão que o êxito de “Avenida Brasil” se deve ao fato de ser ela o retrato verdadeiro da nossa sociedade. Se isso é correto, moro em outro país sem o saber, já que as pessoas com quem convivo e as famílias que conheci ao longo de minha vida, nem de longe se parecem com os personagens criados por nosso brilhante teledramaturgo. Certamente, li nos jornais e ouvi contarem histórias escabrosas, implicando traições, homicídios e falcatruas, mas nunca na escala em que nos mostrou a novela, onde todo mundo é bandido ou babaca. Pretenderia o autor nos convencer de que quem não se torna bandido é babaca. Seria uma péssima lição”.
Sem comentários, meus caros leitores, porque as palavras falam por si.
por Antônio Carlos dos Reis - publicado em 27/05/2013
Meus caros leitores, a tragédia que se abateu sobre o país e particularmente sobre a cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, com o incêndio da boite Kiss, ao mesmo tempo em que mostrou a irresponsabilidade em série que tomou conta das diferentes autoridades locais, também mostrou a grande emoção, a tristeza e a solidariedade do povo brasileiro.
Até o momento em que este comentário foi escrito, cerca de 239 jovens, a grande maioria de universitários, perderam a vida, da forma mais estúpida que se pode conceber. Havendo ainda um considerável número de feridos intoxicados gravemente, hospitalizados em diversos hospitais da região, inclusive na Capital, Porto Alegre.
Colaborou de forma decisiva para o agravamento da tragédia as instalações precárias da boite, fiscalização vencida, empregados mal preparados, seguranças que trancaram portas, banda e músicos irresponsáveis, soltando fogos de artifício impróprios para ambientes fechados, revestimento e decoração da casa com material altamente inflamável, extintores de incêndio inoperantes, além da superlotação da casa, com capacidade para 600 pessoas, mas que permitiu o ingresso de mais de 1000 universitários e seus convidados.
As imagens exibidas nas televisões, jornais e revistas foram chocantes e dolorosas, diante de centenas de cadáveres amontoados dentro da boite, nas ruas e dos parentes desesperados, chorando compulsivamente, sem saber o que fazer e para quem apelar.
Meus caros leitores, este é o país do faz de conta. A prefeitura de Santa Maria fez de conta que expediu e liberou um alvará de funcionamento regular e que fiscalizou a casa de eventos; O Corpo de Bombeiros da cidade fez de conta que vistoriou a casa, determinou providências para evitar tragédias como a que ocorreu; os proprietários da boite fizeram de conta que tomaram todas as providências necessárias para dar segurança e conforto aos frequentadores, notadamente com relação à superlotação da casa, as saídas de emergência, bem como aos extintores de incêndio, os quais, segundo a perícia, não funcionaram. E todos eles, prefeito, comandante do Corpo de Bombeiros e proprietários procuraram se isentar de qualquer responsabilidade, embora seja inegável que a tragédia aconteceu porque as autoridades responsáveis acima nomeadas, bem como os proprietários, foram omissos, irresponsáveis e negligentes. Merecendo, por
isso mesmo, o repúdio e as severas críticas que lhes foram dirigidas pelas centenas de familiares das vítimas.
Depois da porta arrombada, os prefeitos de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, Salvador e outras resolveram colocar a tranca, determinando providências rigorosas dos setores de fiscalização e expedição de licenças, vistorias e alvarás municipais, bem como do Corpo de Bombeiros, além de determinar uma operação pente-fino nas casas noturnas e boites, mas a dor dos familiares, pais, mães, irmãos, esposas, maridos, namorados, esta nunca será resgatada, como a de Elaine Gonçalves, que perdeu dois filhos na tragédia, ambos universitários, um deles no último semestre do curso de farmácia e o outro universitário de engenharia.
por Antônio Carlos dos Reis - publicado em 29/05/2013
Meus caros leitores, quando o PT foi fundado por Lula e um seleto grupo de trabalhadores, ligados ao Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, bem como por intelectuais vinculados à USP(Universidade de São Paulo), ficamos animados e até mesmo esperançosos de que, finalmente, teríamos um partido diferente, focado em princípios éticos e programas voltados ao povo, notadamente aos mais pobres, a famosa galera, quebrando a espinha dorsal da obscena desigualdade social do país.
Mais de uma vez, já declaramos neste espaço que não somos vinculados a nenhum partido político, o que nos permite adotar uma atitude de isenção na hora de criticar ou aplaudir os atos e manifestações das agremiações partidárias brasileiras e também votar neste ou naquele candidato, independentemente de sua cor partidária.
Nas últimas eleições, prestigiamos com o nosso voto alguns candidatos do PT, mas é certo que em eleições passadas votamos em candidatos de outros partidos, depois de um rigoroso exame de seus antecedentes pessoais e políticos, especialmente daqueles que exerceram cargos públicos.
Em razão desse nosso comportamento político, prestigiando o PT, estamos perplexos e achamos que os petistas ajuizados, que são a maioria do partido, estão precisando urgentemente chamar à ordem um grupo extremista da agremiação e também o seu presidente nacional, o deputado estadual Rui Falcão. Mesmo quem não convive com as questões da justiça, sabe e já ouviu falar que decisão do Supremo Tribunal Federal não se discute, mas sim cumpre-se. Qualquer pessoa pode discutir ou divergir de decisões do Supremo, mas proferido o acórdão (nome da sentença em tribunais superiores), transitada em julgado a decisão (não cabendo mais recursos), cumpre-se sem mais delongas e muito menos questionamentos. E, se assim não acontecer, o Brasil se transformará em uma daquelas famosas repúblicas bananeiras, de triste memória, na América Central, em outros tempos.
No entanto, o que vemos no noticiário de jornais, revistas e televisões é que um grupo extremado do partido, tendo a frente seu presidente nacional, rebela-se contra uma decisão do Supremo Tribunal Federal, afirmando que tentarão derrubá-la nas ruas, com apoio popular, o que, por si só, já é um absurdo. E o que é pior, lançando dúvidas sobre o comportamento dos ministros da Corte Suprema, acusando-os de serem “instrumento de poder a serviço de uma oposição conservadora, suja e reacionária”.
Seria o caso de indagar: afinal de contas, o que este grupo e o presidente do partido esperavam do julgamento da ação penal nº 470, o famoso mensalão. Produzidas as provas documentais e outras durante a instrução do processo, tomados os depoimentos de testemunhas, oferecendo a acusação e a defesa de suas respectivas razões , foi proferida a decisão, de forma livre e soberana, à qual todos têm a obrigação de obedecer.
É preciso não esquecer que oito dos onze ministros do STF(Supremo Tribunal Federal) foram nomeados a partir de 2003 por Lula e Dilma e também não olvidar que em 2005, quando a bomba do mensalão explodiu, Lula disse que se sentia traído pelos mensaleiros e que o PT deveria pedir desculpas à nação pelos malfeitos.
por Antônio Carlos dos Reis - publicado em 19/11/2013
Meus caros leitores, o Papa Francisco conquistou definitivamente o coração e a consciência dos brasileiros, pela sua simplicidade, humildade, simpatia, tolerância, firmeza de princípios, mas, sobretudo, pelo seu humanismo e o encantador sorriso, agradando a todos que ouviram suas palavras, mesmo aos que não professam sua religião e até mesmo agnósticos e ateus, alguns dos quais fizeram questão de emitirem impressões favoráveis às palavras do Papa, em entrevistas a jornais e revistas.
Acompanhamos com bastante atenção e interesse a visita do Papa e constatamos que realmente ele foi ao encontro das ruas e não das autoridades, deixando para muitos palavras de esperança e renovação. Conclamou os jovens a assumir o protagonismo das mudanças sociais, incentivando-os a continuarem nas ruas, solicitando que nunca desanimem e nem percam a confiança diante das adversidades e da corrupção.
Anotamos algumas de suas palavras, que merecem reflexão:
-“Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na igreja, pela incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho”.
-“Cristo está em quem sofre. Com a cruz, Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência; a todas as pessoas que passam fome, a quem é perseguido pela religião, pelas ideias, ou pela cor da pele”.
-“Quando somos generosos acolhendo uma pessoa e partilhamos algo com ela não ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Quando alguém que precisa comer bate na sua porta, vocês sempre dão um jeito de compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode colocar mais água no feijão”.
-“Muitas vezes se comete a injustiça de deixar de lado os idosos ao pensar que não têm nada para nos dar, mas eles têm a sabedoria da vida”.
Em entrevista à Rede Globo, mais uma vez o Papa demonstrou uma profunda sensibilidade com os problemas sociais do mundo e em um certo momento disse ao repórter:
-“Você acha que nós podemos colocar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilos, sabendo que neste momento milhares de crianças estão morrendo de fome em um mundo de abundância e que muitos idosos estão morrendo por falta de assistência médica e hospitalar nos locais onde vivem ?”.
Durante a visita à favela da Varginha, reunido com jovens da comunidade, proclamou:
-“Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. Também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo. A igreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem precioso da fé, de Jesus Cristo, que veio “para que todos tenham vida, e vida em abundância”.
Meus caros leitores, o Papa nos surpreendeu e por isso mesmo ficamos profundamente emocionados com suas palavras, com sua simplicidade e, notadamente, com o seu humanismo.
por Antônio Carlos dos Reis - publicado em 16/12/2013
Meus caros leitores, se existe uma personalidade mundial merecedora de todas as homenagens que lhe são prestadas, inegavelmente esta personalidade é Nelson Mandela, como símbolo da resistência, persistência e tolerância na luta contra o racismo na África do Sul.
Temos em mãos um exemplar de “O Imparcial”, edição de 29.05.1960, sob o título “Direitos Humanos Inexistentes na África do Sul”, deploramos e criticamos severamente a existência da política do “apartheid” ,defendida pelo governo sul africano.
Naquela oportunidade afirmamos: “No extremo sul do continente africano desenvolve-se atualmente o mais odioso e cruel racismo de que se tem memória desde a última guerra, de tão amargas recordações. Não é de hoje que, desrespeitando os mais comezinhos princípios de dignidade humana, aquela nação dá ao mundo um vergonhoso exemplo do que se nos afigura como um esmagamento dos direitos humanos. São as derradeiras levas de “arianos” remanescentes da última guerra e que ainda não se esqueceram dos resultados das campanhas racistas promovidas pelo hitlerismo e pelo facismo, ainda em nossa memória, quando o mundo assistiu horrorizado ao maior massacre de seres humanos. Hoje, reedita-se na África do Sul, com não menos indignidade, os mesmos processos de extermínio. E qual o crime daquela população ? Por que são perseguidos ? Eles cometeram o hediondo crime de nascer negros, de ter a pele escura que Deus lhes deu”.
Nelson Mandela viveu os horrores da segregação racial, resistiu bravamente, fundou o CNA(Congresso Nacional Africano), foi preso, torturado, passou 27 anos enjaulado numa cela de 4 metros quadrados, contraiu tuberculose na prisão, o que significou uma grande atrocidade do nosso tempo.
Mesmo atrás das grades, Mandela comandou a resistência e a luta pela igualdade racial, forçando o governo racista a uma negociação e o fim do “apartheid”. Só para se ter uma idéia, o “apartheid” foi um conjunto de leis, imposto pela minoria branca, para que negros, mestiços e asiáticos vivessem separados, consolidando a segregação racial. Alguns de seus capítulos: as terras mais férteis destinavam-se aos brancos; as áreas urbanas eram reservadas aos brancos e os negros só podiam circulas nelas, mas com um passe; proibida relação sexual entre brancos e negros; obrigatório para os negros portarem uma caderneta, onde estava delimitada a circulação em território dos brancos; no registro civil, separação entre negros e brancos; negros poderiam ser deportados, em caso de condenação; na educação, oficializou-se a separação entre crianças brancas e negras; foi retirado dos negros dos Bantustões a cidadania sul-africana.
Somente para citar dois eventos trágicos do drama vivido pelos negros sul-africanos, em março de 1960, a polícia sul-africana atirou pelas costas e matou cerca de 70 opositores, todos negros. Outra chacina aconteceu em Soweto, em 1976, onde cerca de 10.000 estudantes negros realizavam uma passeata pacífica, quando a polícia abriu fogo e massacrou cerca de 600 estudantes. Depois dessa brutalidade, Soweto transformou-se em símbolo da resistência.
Meus caros leitores, esta figura universal, o popular “Madiba”, na linguagem de seu povo humilde, pode ser comparado a Martin Luther King e a Mahatma Gandhi, os quais têm em comum a encarnação do sacrifício pessoal e deram a vida por seu povo. Nenhum deles se preocupou com o produto interno bruto de suas nações, com a acumulação de riquezas, com o consumo exagerado de bens materiais. Não ganharam batalhas nem esmagaram os inimigos. Se existe céu, certamente lá há um cantinho reservado para Nelson Mandela.